5 de fevereiro de 2018

#Fanfic 1 - Faces (Capítulo 1)

1 - Sentimentos da infância


Já haviam se passado alguns anos desde que a Joia de Quatro Almas havia sido extinguida. Naraku havia sido derrotado e Kagome cumprira sua função. A paz finalmente estava reinando por todo Japão. Apenas por alguns yokais que ainda faziam parte do cenário e pequenas rebeliões aconteciam recorrentemente. Ainda assim, a vida seguia seu rumo da forma mais pacífica que o povo daquela região havia tido há anos. 

A fresta de luz em seu rosto a despertou. Era uma manhã ensolarada com o frescor do outono. O orvalho feito à madrugada trazia frescor ao quarto a medida que a jovem Rim abria a janela. Ela completava seu vigésimo aniversário naquele dia. Já fazia alguns anos desde que passou a viver na tranquilidade da vila. Ela era feliz naquele lugar, de certa maneira, ao mesmo tempo em que ainda se sentia constantemente deslocada. A sacerdotisa Kaede a acolhera por todo esse tempo, desde quando o seu senhor também havia partido. E desde então ela passara a sentir algo que lhe era estranho no peito. A sacerdotisa havia dito que isso era saudade. Um sentimento sobre a falta que uma determinada pessoa faz. O querer que ela estivesse ali, enquanto ela não poderia estar. E ela estava certa. 

Havia dias em que ela jurava tê-lo visto passar pelo céu, ansiando que dessa vez ele viria buscá-la. Nos primeiros anos ela encontrava presentes ao pé de sua janela. Tecidos, enfeites ou somente flores. Ela gostava de usá-los para que pudesse manter suas lembranças nele constantemente. Mas aos dias mais recentes, suas visitas passaram a ser menos constantes. E mesmo que ele ainda fosse em alguns desses poucos momentos, ela jamais conseguira vê-lo. Chegara a pensar que tudo o que passara com ele em sua infância não fora um sonho bom se não fosse pela sacerdotisa Kaede confirmar sua existência. Pois, antes de chegar na vila, tudo o que havia em suas memórias se baseava nele. 

Talvez ele simplesmente não quisesse aparecer. Sempre fora difícil compreender o que se passava em seu pensamento. E quando criança, seu coração tinha sentimentos mais simples do que os que tinha agora. Mas o que quer que ela sentisse enquanto convivera com ele, jamais desaparecera. Pelo contrário, o tempo o fez mais intenso, seja lá o que fosse. 

Tinha medo de que o dia em que ele fosse buscá-la jamais acontecesse. Ele havia prometido fazer isso quando chegasse a hora certa. Ou talvez eram só suas lembranças sendo manipuladas pelos seus desejos. Além de já estar afastado e se distanciando cada vez mais, poderia chegar um momento em que ele desistisse dela, ou que simplesmente a esquecesse. Ela não aceitava acreditar nisso por mais que a espera pudesse entristecer seu coração. 

Era imatura e ingênua, sabia disso, mas não via outra maneira de se viver. Vivia para ele, sempre vivera. Desde quando ela o vira pela primeira vez, quando ele a salvara e lhe devolvera a vida. Então ela esperava, desejando ansiosamente que chegasse o dia em que ele aceitasse esse sentimento que havia dentro dela. Ou que simplesmente pudesse vê-lo outra vez. 

– Rin, venha! 

O chamado ecoou em seu quarto, seu coração parara por um instante e um frio percorrera pelo seu corpo mesmo estando sobre a luz daquela manhã ensolarada. Ela se virou assustada procurando ver ansiosa quem a chamava.

– Preciso que me ajude, menina. – era a sacerdotisa Kaede, dispersando totalmente seus pensamentos.

Rin acompanhou a sacerdotisa até o pequeno templo da vila, onde haviam algumas pessoas em tratamento. Umas assoladas por doenças, outras atacadas por yokais ou assaltantes no caminho da floresta, outras apenas precisando de um apelo espiritual. A menina geralmente tratava das pessoas feridas enquanto a sacerdotisa atendia as orações requisitadas. Rin apreciava este trabalho, apesar de recusar todas às vezes em que Kaede insinuava que ela pudesse tomar o seu lugar no templo. 

A senhora sabia dos motivos da garota, que ela ainda esperava partir com aquele homem que a havia deixado na vila. Já haviam sido pouco mais de dez anos. Cuidara dela desde então, como se fosse uma filha, apesar de sua idade já avançada. De todo modo não podia forçá-la a nada, mas se preocupava de que ela acabasse sofrendo com essa esperança infundada em sua vida mesmo ela sendo o próprio motivo da felicidade da garota. Já não acreditava que ele fosse buscá-la algum dia. Ela ainda era jovem, talvez com o tempo percebesse por si só. De todo modo, ela sempre teria um lugar ali. 

– Um jovem foi atacado ontem a noite vindo para a vila. Pode trocar as faixas das feridas dele para mim? – perguntou a sacerdotisa indicando a porta com um gesto nas mãos. 

– Claro, senhora Kaede. – respondeu Rin sorridente. 

Rin se dirigiu a sala que a sacerdotisa havia lhe indicado e fizera o que lhe fora pedido. O rapaz estava dormindo e acordara gemendo quando a jovem começara a limpar o corte profundo de seu ombro. Sobressaltou-se e fez como que ia levantar, mas a dor o fez gemer e ele voltou a sua posição inicial.

– Não se mexa, senhor. Vim trocar o unguento e as faixas de suas feridas. – disse serenamente com um leve sorriso no rosto.

O jovem assentiu e tentou ficar o mais imóvel possível. Rin tentava tranquilizá-lo a medida que as expressões do rosto do rapaz mostravam que estava sentindo dor. Ela mantinha sua expressão sempre serena e tranquila. Terminou de enfaixá-lo e se dirigiu para a porta em retirada. Ela parou e virou-se quando percebeu que ele tentava balbuciar alguma coisa. 

– O-o-obrigado. – finalmente conseguira dizer. 

– Por nada, senhor. – sorriu educadamente e voltou-se a virar para a saída. 

– Quando voltarei a vê-la? – pelo tom de sua voz, ele parecia ansioso. 

Ela hesitou por um momento e permaneceu de costas para o rapaz. Não era a primeira vez que algo desse tipo acontecia. Ela não entendia muito dessas coisas do mundo, mas sabia porque recebia tantos cortejos. A senhora Kaede costumava soltar algumas coisas a respeito de que ela já estava na idade de se casar, mas a jovem sempre desconversava. Ela não se imaginava fazendo nada desse tipo. A sacerdotisa nunca a obrigada a fazer nenhuma de suas escolhas em sua vida no vilarejo, mas sempre deixava claro o que considerava poderia ser melhor para ela. Rin sempre tentou agradá-la de todas as formas possíveis, sendo gentil e cumprindo as tarefas para as quais era designada. Mas ela se negava ceder os sentimentos que ainda a acompanhavam desde a infância.

– Amanhã, provavelmente. – dizendo isso, fechou a porta e saiu. 

Depois de mais algumas tarefas realizadas, a jovem se pôs a caminho de volta para sua cabana. Ela ficava na extremidade do vilarejo, um pouco além do templo, num lugar mais retirado, para que pudesse repousar em paz com sua solidão. Seu aniversário passara como todos os outros. Ela preferia não cobrar algum tipo de recordação com comemoração. Era para ser um dia feliz, mas era sempre quando se sentia mais assolada em melancolia. 

Talvez ele realmente estivesse se esquecendo dela. Talvez ele não se lembrasse de uma data tão irrelevante quanto era o seu aniversário. Ela não se continha em pensar essas coisas e se entristecer com elas. Era tão boa a época em que podia correr pelo mundo, porque ele estava naqueles momentos. Mesmo sabendo que era arriscado, que era perigoso e que podia perder a vida mais uma vez. Ela poderia sacrificar facilmente uma vida segura e tranquila por uma de um dia ao lado dele. Aparentemente, ele não. Pouco antes de partir, ele havia-lhe dito que não tinha mais poder para protegê-la. É a única coisa que consegue se lembrar com clareza. Ela não entendia a que ele se referia, pois ele era o mais forte de todos que já conhecera. 

A lua já estava surgindo quando chegara em sua casa. Abriu a porta e olhou ao redor com a pouca iluminação que lhe era proporcionada, imaginando que ele pudesse estar ali. Ela sempre o fazia, mas sabia que era em vão. Mesmo se estivesse lhe deixando alguma coisa, ele saberia quando ela estivesse chegando, e então partiria sem que ela o pudesse ver novamente. Da mesma forma como ele também poderia estar perto dela sem que a deixasse perceber, talvez esperando um bom momento para aparecer.

O pensamento a fez sorrir. Conhecendo-o como conhecia, ela entendia muitas coisas sobre sua situação, sua espera e seus sentimentos. Por isso ainda queria esperá-lo, mesmo que isso durasse toda a sua vida. Era definitivo, estava decidida. 

Ela respirou fundo e entrou, satisfeita com seus pensamentos finais. Ajeitou-se para dormir. Abriu a janela e viu a lua cheia já visível no céu. Se estivesse mesmo determinada a esperá-lo, não podia se entristecer com a demora. Ela se deitou e sorriu. Ela não podia controlar os próprios sonhos, mas desejava poder sonhar com ele. Não desistiria mais, nem cogitaria mais nessa possibilidade. Ela confiava nele, sempre confiou. Ele já havia lhe devolvido a vida e era ele que lhe devolvia a esperança de outra vez ser feliz todos os dias.

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CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

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